NA TERRA DOS AVEJÕES
Fiz um canto com pedras,
um santuário verde no meio da
cidade morta.
Trouxe madeiras e novas ervas
onde meus gatos praticam o
esgrima com destreza,
e o cão se lembra
da última festa na savana
ancestral.
Pousam-se, dias sim, dias não, beija-flores
astronautas,
sedentos dos manacás, lacerados e
confusos,
enchidos da língua eréctil.
Meus felinos cobiçam seus voos
flutuantes
de agitada esmeralda ingênua,
como caída nos seus lábios
direto do céu generoso.
No meu canto há espaços para os duendes
e avejões,
que só aparecem pela noite
nas sombras que faz a candeia entre a folhagem,
ou nas fendas dos velhos e
embolorados troncos.
Quando a manhã chega,
os insetos,
que desafiam a física dos
tamanhos,
destecem suas lânguidas patas
como se os galhos secos
nascessem à vida,
e vão embora, ainda noctâmbulos,
à espera de outra luz que guie
seus rituais zambos.
Nesse mundo não há horas sem
sortilégios:
hoje surgiu, no brilho das asas
de um besouro gigante,
talvez da mamangava,
mais um dia branco e absoluto, na
cidade morta,
que jaz em mim.
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